1.11.11

Hécate – Goddess of Wisdom * Deusa da Sabedoria Intuitiva * Diosa de la Sabiduría intuitiva * Déesse de la sagesse et à l'intuition

Hécate na Encruzilhada
Na Mitologia Grega, Hécate era a Deusa das Encruzilhadas, capas de ver 3 caminhos ao mesmo tempo. Quando chega a um cruzamento, ela está lá.
Hécate é invariavelmente a deusa velha, quando a mitologia grega descreve Deusas em trios. Além de Perséfone, a virgem, Deméter, a mãe, e de Hécate a velha, havia três deusas que personificavam a as fases da Lua: Artémis, a deusa da Lua em quarto crescente, Selene, a deusa da Lua cheia e Hécate a deusa da Lua em quarto minguante e da lua velha. Havia outra tríade composta por Hebe, a virgem, Hera, a deusa do matrimónio, e Hécate, a Deusa das encruzilhadas.
Hécate, é uma figura vaga, tanto metafórica, como mitologicamente. É associada aos infernos, mas não os habita. O seu tempo é o crepúsculo. As oferendas, “ceias de Hécate”, eram deixadas nas encruzilhadas, normalmente quando a lua estava escondida, e por vezes quando estava cheia.



Hécate é a chamada rainha das feiticeiras.
Na Teogonia, (700 a.C.), Hesíodo afirmou que seu nome significa “a que tem poder á distância” e que era ela mais venerada que as outras divindades, tendo-lhe Zeus conferido poderes sobre a terra, o oceano e o céu.

É-lhe atribuído o aspecto da deusa da magia e da adivinhação, pelas suas capacidades para-psicológicas e de clarividência.
Hécate é descrita como uma deusa da Lua, com uma cabeleira reluzente ou com os cabelos presos por uma fita de estrelas, que transporta tochas nas mãos. Fazia-se acompanhar pelos seus cães pretos. Nas encruzilhadas era uma presença invisível ou materializava-se assumindo a forma de um pilar ou de uma estátua com 3 faces a olharem em 3 direcções.
Ela é descrita com três cabeças e três pares de braços, transportando três tochas, uma chave, uma corda e um punhal. As tochas permitem-lhe ver nas trevas, a chave desvenda os segredos do oculto ou os mistérios da vida depois da morte, a corda é o símbolo do cordão umbilical da ressurreição, e a faca simboliza o poder ritual, representa a capacidade de ver através das ilusões.

O cão é o animal simbólico de Hécate, por vezes, referida como uma cadela preta. Por vezes, as estátuas em vez de terem três faces, tinham uma combinação de três animais: o cão, a serpente e o leão ou o cão, o cavalo e o urso. Além do cão, o outro animal muito associado a Hécate era a rã, um símbolo do feto e da gestação e uma imagem totémica da parteira.
O teixo, o amieiro e o choupo, são árvores funerárias associadas a Hécate enquanto Deusa dos portões entre o mundo dos vivos e o mundo subterrâneo das sombras. O teixo está associado á imortalidade, sendo a morte encarada como mera transição.

Se costuma prestar atenção a sonhos e sincronicidades, se recorre a uma reserva de experiencias anteriores e se usa a intuição para decidir que direcção tomar, conhece este arquétipo.
Hécate é a Deusa da intuição.
Em cruzamentos significativos, Hécate é uma presença silenciosa sob a forma de uma testemunha dentro de nós. Em encruzilhadas significativas da estrada, recorda a forma do passado, observa o presente com honestidade e tem uma noção do que está para vir ao nível da alma. Não faz escolhas por sí, nem a julga. Para conhecer a sabedoria dela, tem de parar e de a consultar. Tem de escutar o que ela lhe diz pela voz da sua própria intuição.
Hécate é personificada pela parteira que assiste aos nascimentos e pelas mulheres que facilitam a passagem da alma quando ela se liberta do corpo no momento da morte. Metaforicamente, Hécate é uma parteira interna, que nos ajuda quando damos á luz novos aspectos de nós próprios. Ajuda-nos a libertar-nos do que está pronto para morrer.
Quando uma mulher entra na terceira fase da vida e presta atenção a um impulso interior, quem ocupa o lugar central é Hécate. Quando se encontra nesse momento linear, a mulher parece indecisa, a sua energia afigura-se desaproveitada. Se permanecer na encruzilhada até descobrir intuitivamente que direcção tomar, emerge renovada e revigorada.

Descidas aos Infernos e a Conquista da Sabedoria
A história do rapto de Perséfone é relatada no Hino a Deméter de Homero:
A donzela estava a apanhar flores num prado. Atraída por uma enorme flor, surpreendentemente bela, afastou-se das companheiras e quando ia colhê-la, a terra abriu-se á sua frente, e das profundezas emergiu Hades, o Senhor dos Infernos na sua carruagem preta puxada por cavalos pretos, que a agarrou enquanto ela gritava aterrorizada e a levou para os infernos.
Quando Perséfone desapareceu, a mãe, Deméter procurou-a por toda a parte, em vão. Finalmente, ao cabe de 9 dias e 9 noites, Deméter regressou ao bosque, derrotada e aflita. Hécate foi ter com ela e sugeriu-lhe que fossem pedir informações ao Deus Sol, que tinha presenciado tudo. Acompanhada por Hécate, Deméter, fica a saber a verdade: Perséfone tinha sido raptada por Hades, com a permissão de Zeus.
Hécate só volta a ser mencionada no mito, quando Perséfone regressa dos infernos para junto de Deméter, sua mãe. Hécate saúda Perséfone com muito afecto. Segue-se um verso críptico: “A partir desse dia, Hécate segue Perséfone”.
Hécate não poderia fisicamente perseguir Perséfone. Este verso sugere que Perséfone passou a ser acompanhada por um espírito ou consciência que terá adquirido depois do seu regresso dos infernos.
Esta história pode ser a de qualquer um de nós. Todos nós tivemos períodos em que tudo estava bem, até acontecer o inesperado e ficarmos petrificados de medo perante uma súbita violação do nosso mundo seguro, possa esta ter a forma de uma traição, a ruptura de uma relação, a morte, o aparecimento de uma doença, uma perda financeira ou o fim da inocência. Se formos arrastados ara as trevas da aflição, da depressão ou do desespero, do cinismo, da amargura ou da vingança, tornamo-nos prisioneiros dos Infernos e interrogamo-nos sobre se conseguiremos de lá sair.
Se regressar da sua descida aos Infernos, terá aprendido que o amor e o sofrimento fazem parte da Vida. Quando supera tempos difíceis, aprofunda sua experiência e sabedoria. A sábia Hécate torna-se sua companheira íntima.             
O conselho de Hécate foi procurar a Verdade.
As pessoas podem sentir-se incapazes de enfrentar a verdade e, portanto, acomodam-se, mantendo a verdade á distancia por meio de racionalização, da negação, ou de dependências que as tornam insensíveis á verdade.
Uma mulher só se torna sábia como Hécate quando a experiencia lhe ensina que é possível enfrentar a realidade.

Hécate como Testemunha
Hécate é uma testemunha dentro de nós, é uma observadora que estabelece nexos e nos fala na linguagem simbólica dos sonhos. Os sonhos vêm ter connosco na penumbra, são mensagens liminares provenientes do inconsciente que sonha e a sua captação e recordação exigem-nos um esforço consciente, á semelhança das intuições capazes de esclarecer uma situação emocional dolorosa que nos ocorre, e que podem dissipar-se e perder-se se não lhes prestarmos atenção e se não aprender-mos com elas.
Hécate a testemunha, está presente quando prestamos atenção aos nossos sonhos, acolhemos as nossas intuições ou escutamos a voz interior. É como se ela nos acompanhasse, empunhando as tochas para podermos ver na escuridão.
Quando familiares estão a morrer, talvez sinta a presença delas em si depois de morrerem ou tenha uma “visita” durante um sonho, que costuma passar-se num local reconhecível. No sonho, sabe que as pessoas morreram e que está a vê-las depois da morte delas. Essas pessoas parecem bem, e muitas vezes têm alguma coisa para lhes dizer. Esses sonhos costumam permitir que fique a saber que a pessoa falecida está bem e que a ama. O sonho é tão real que pode sentir que está a ver e a ouvir a pessoa falecida e até a tocá-la e a sentir o seu cheiro. Acorda com a sensação de uma vivência que é muito mais que um simples sonho – como se tivesse penetrado no reino entre dois mundos que é o de Hécate.

Os psicoterapeutas acabam por depender de Hécate, e, em certa medida, personificam-na diante de seus doentes. As pessoas quando estão numa encruzilhada recorrem á psicoterapia. Um terapeuta observa, escuta e testemunha o que lhe é revelado. Tal como Hécate fez com Deméter, o terapeuta encoraja o cliente a a procurar a verdade da situação, incluindo as percepções e sentimentos genuínos que a denegação esconde.
 O olhar compassivo de Hécate, a testemunha, não julga, não responsabiliza nem culpa ninguém, não estimulando portanto um comportamento defensivo ou de denegação.
Hécate pode desenvolver-se cedo em nós, quando circunstâncias traumáticas a invocam, no entanto, costuma tornar-se mais importante quando envelhecemos e somos capazes de distinguir padrões e de reflectir sobre acontecimentos que nos mergulharam nas trevas da depressão, da inveja, da vingança ou do desespero. A probabilidade de conhecermos Hécate como conselheira sábia que nos recorda lições provenientes da nossa experiencia aumenta coma idade. É assim que Hécate facilita a integração das nossas múltiplas identidades transformando-nos em pessoas consequentes e autênticas.

Hécate como Parteira
As parteiras acompanham as parturientes durante todo o trabalho de parto. São uma presença tranquilizadora e experiente, que reduz o medo e a dor enquanto a mulher se esforça por dar á luz.
As parteiras foram as primeiras mulheres a serem condenadas por bruxaria no tempo da Inquisição porque aliviavam as dores do parto. Com efeito, diminuir as dores durante o trabalho de parto representava ir contra a vontade de Deus, expressa no Antigo Testamento: As mulheres deveriam dar á luz na dor e no sofrimento.
“Disse também á mulher: Eu multiplicarei os teus trabalhos, e os teus partos. Tu parirás teus filhos, e estarás sob o poder do teu marido, e ele te dominará.” (Genesis 3:16)
A profissão da parteira é um chamamento terreno, de apoio á natureza que exige uma atenção instintiva e a capacidade de detectar sinais de transição física nas fases do trabalho de parto e do processo da morte, porque os reconhece como fazendo parte da natureza.
A parteira é uma sacerdotisa da Deusa Mãe, que á semelhança da própria Terra, é útero e sepultura para todas as formas de vida. Distinguir a divindade na natureza e nas suas criaturas e ser capaz de dar apoio nesses momentos é um chamamento sagrado. Quando aquilo que fazemos decorre do arquétipo da parteira, reconhecemos o nosso empenhamento num trabalho sagrado.
A parteira pode ser uma voluntária numa instituição de saúde motivada em evitar a dor e o medo de um moribundo. É uma parteira no momento da morte, ajudando a alma a libertar-se do corpo. A sua presença nessa transição natural é reconfortante e pode facilitá-la. Do mesmo modo em que á fases na gravidez que precedem o início do trabalho de parto, á fases em que o corpo e a alma se preparam para essa separação. O momento em que a alma deixa o corpo de uma pessoa que está a morrer é um momento sagrado partilhado pelos presentes.
Morte ou parto fácil ou difícil, é bom ter Hécate por perto, sob a forma da presença reconfortante de uma mulher experiente e sábia.
Hécate, a parteira, é o arquétipo presente nas pessoas que apoiam outras durante um difícil processo de dar á luz, em profissões como a edição, a direcção, o acompanhamento individual, o ensino ou a psicoterapia, quando é possível desempenhar o papel de parteira na vida criativa de outra pessoa.
Investimos menos a nível do ego á medida que a idade avança e a sabedoria aumenta, razão pela qual é mais provável que sejamos capazes de apoiar o processo criativo de outra pessoa.

Hécate como Médium ou Telepata
Hécate, a telepata, sente-se bem na zona “nebulosa” da médium que funciona como intermediária entre o mundo visível e do espírito. Pode ser uma clarividente que vê com o terceiro olho ou o olho da mente ou através de visões. Pode compreender o significado pre-cognitivo dos sonhos. O tempo de Hécate é o crepúsculo, essa zona de transição entre o dia e a noite. A Deusa estava na gruta quando Perséfone foi raptada. Nos mitos, as grutas são acessos ao mundo subterrâneo, passagens entre o mundo dos vivos e as “sombras dos mortos”.
A leitura dos presságios, a utilização de formas oraculares como o Tarot, o I Ching, as Cartas dos Curandeiros ou cartas Xamânicas ou as Runas, a interpretação dos sonhos ou as jornadas de recuperação da alma, são formas não-racionais de entender, conhecer ou curar que fazem parte do reino de Hécate.
Como as aptidões para-psicológicas são minimizadas, ridicularizadas ou temidas, as pessoas com os dons mediúnicos de Hécate não costumam desenvolve-los quando são jovens. Á medida que envelhecem, as mulheres vão tendo oportunidades de aprender, com a sua própria experiencia, a prestar atenção a intuições ou percepções para-psicológicas. Quando entram na menopausa, as circunstâncias reforçam a possibilidade de as mulheres prestarem atenção a Hécate.
Depois da menopausa, talvez deixe de se preocupar com a possibilidade de as pessoas a acharam algo estranha e esteja disposta a sair do seu cantinho.
No momento em que o fizer, Hécate acompanhá-la-á.
Quando uma mulher desenvolve as suas aptidões para-psicológicas, põe-se o problema do que fazer com elas. A manipulação das pessoas, o uso incorrecto das informações, a exploração ou a obsessão pelo poder oculto são possibilidades sombrias.
Quanto mais íntegra e mais madura for uma mulher com aptidões ocultas, maiores são as probabilidades de ela usar bem os seus poderes.

Hécate como Feiticeira Temida
As mulheres temem ser chamadas de bruxas por razões históricas de peso. A Inquisição foi criada em 1252 pelo papa Inocêncio IV e a tortura prosseguiu durante cinco séculos e meio até ser abolida pelo papa Pio VII em 1816. Entre 1560 e 1760 a perseguição de mulheres por bruxaria atingiu o seu auge. É chamado a este tempo o “holocausto das mulheres”. Estima-se entre cem mil e oito milhões o n.º de mulheres condenadas á morte na fogueira.
As mulheres mais temidas ou respeitadas foram as mais perseguidas. Entre as primeiras a serem queimadas, incluíam-se as parteiras e as curandeiras, as velhas que facilitavam o trabalho de parto e ajudavam as mulheres a darem á luz, que conheciam as ervas medicinais e cujos poderes provinham da observação e da experiencia. As mulheres com autoridade e experiencia ou conhecimentos, as mulheres excêntricas ou as mulheres com posses, normalmente viúvas também eram denunciadas, sujeitas a tortura e condenadas.  Qualquer mulher idosa corria riscos, para sobreviverem, era preciso que não dessem nas vistas nem se distinguissem. Só as mulheres idosas invisíveis permaneciam vivas.
Um dos motivos pra acusações de bruxaria era a ganância, ficar com os bens das bruxas ou verem-se livres da competição. Os acusadores das parteiras, por exemplo, eram médicos. As viúvas com algumas posses cobiçadas por outras pessoas eram alvo de denúncia. Havia avareza por parte da inquisição. Considerava-se que os bens de uma mulher que tivesse sido denunciada como bruxa e queimada serviam para custear o seu encarceramento, tortura e até a morte na fogueira.
As mulheres do campo queimadas na fogueira por bruxaria eram cristãs de nome, mas se celebrassem os solstícios de Verão e de Inverno e os Equinócios da Primavera e do Outono, se plantassem d acordo com as fases da Lua, se fossem capazes de prever o frio que faria no Inverno, com base no comportamento dos animais e se tivessem conhecimentos superiores aos dos membros do clero, tornavam-se aos olhos da igreja, personificações do diabo.
Tudo isto devido aos seus preparados de ervas medicinais e ao seu conhecimento dos ciclos das estações e das fases da Lua, oriundo da antiga religião do culto da Deusa.
As vassouras eram associadas ás bruxas devido á sua utilização em rituais pagãos de casamento e de nascimento. Em Roma, a vassoura simbolizava a sacerdotisa-parteira Hécate, que varria a soleira da porta para afastar os espíritos maus que podiam fazer mal á criança.

Hécate Preside a Momentos de Verdade
Procurar a verdade em vez de permanecer na ignorância ou na negação ou dizer a verdade em vez de calar são decisões cruciais, de encruzilhada.
Sempre que diz a verdade a outra pessoa, sobretudo se a verdade abala uma premissa, esse momento, torna-se numa encruzilhada. Do mesmo modo, sempre que procura a verdade, Hécate é a sabedoria interior que a preparar para ouvir.
Por vezes pode sentir-se inesperadamente na encruzilhada da Hécate, quando alguém está a dizer ou a fazer algo que a porá numa situação difícil. Pode ser um momento de falar em público ou uma situação em que “calar é consentir”, talvez perceba por si que se trata de um momento de verdade que lhe exige que faça o que sabe ser difícil, mas verdadeiro para sí.
Além do efeito que pode ter sobre a própria situação, estes momentos moldam a alma.
Por vezes, quando sabe que o que está prestes a fazer parece “herético”, surge um temor irracional, uma reacção emotiva que parece antecipar o grito “Bruxas á fogueira!” Trata-se de um medo transpessoal existente na psique das mulheres, um terror de serem rotuladas de bruxas e perseguidas.
Sentir este medo e ainda assim fazer o que tem de ser feito, exige coragem. Tendo em conta as repercussões no campo da energia colectiva feminina, quanto mais mulheres enfrentarem este medo mais fácil será para outras.


Texto adaptado do livro As Deusas em cada Mulher, a Deusa Interior, de Jean Shinoda Bolen, Planeta Editora.

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