16 de Agosto de 2010
Retiro de Hermógenes em Fátima
Venho no comboio de caminho a Lagos, para ancorar na Quinta dos Milagres, vinha lendo o livro Mestres da Cultura e da Paz, de Vitor Carusso Jr., livro este, que me foi amavelmente oferecido pelo autor.
Vitor, é um dos professores de yoga da academia de Hermógenes, no Brasil.
Este pequeno grande livro aborda temas como meditação, paz, trabalho humanitário, consciencia harmoniosa no mundo empresarial e consciencia ambiental.
São abordadas figuras públicas, exemplos de pessoas que inspiram e aspiram a um mundo melhor.
Enquanto faço esta viagem de 5 horas em direcção ao sul de Portugal, o Vitor, o Thiago Leão e o Prof. Hermógenes fazem uma viagem de 9 horas de regresso ao Brasil.
Todo este fim de semana em Fátima, no seminário de Hermógenes eu e a Maria tivemos opportunidade de ter o previlégio e a benção de estarmos bem próximas destes três anjos da Paz.
Pudemos partilhar quase todas as refeições com eles, o que para nós foi lindo poder estar mais próximas deles, entre um grupo de tanta gente, nestes escassos 2 dias.
O Prof. Hermógenes, um senhor com 89 anos, feitos a 9 de Março.
9...o número dos mestres e sábios...
Quanta humildade...
Vinha lendo os seus livros desde há três meses, e quando li o Mergulho na Paz, trazido até mim pela mão da Maria, senti...tenho de conhecer este Ser!!!
Afortunada coincidencia, ele vinha a Portugal em Agosto.
A forma dele escrever, inspirou-me profundamente, senti, que bebíamos da mesma fonte, a mesma forma de sentir o mundo.
Tão longe na distancia e tão próxima me senti dele no coração.
Após o Mergulho na Paz, li Yoga para Nervosos, Caminho para Deus e Autoperfeição com Hatha Yoga.
Não posso esquecer o 1º olhar que cruzámos.
No jantar de sexta feira 13 de Agosto, entrava na sala, e Ele, sentado de frente para a entrada, na primeira mesa á direita.
Ao vê-lo pela primeira vez, abrandei o passo, parei mesmo, extasiada com a sua divina presença ali.
Sorri docemente, Ele notando-me desde a entrada, quando me viu bem, fez uma expressão no olhar de reconhecimento mútuo, que não se apagará jamais da minha memória.
No olhar, sem falar, Ele disse:
"Olá! Estás aqui...Que bom ver-te..."
Estendeu a mão para que me aproximasse dele.
Nem podia crer na doçura e no Amor que emanavam Dele.
Aproximei-me, dei-lhe um abraço e beijinhos, que feliz estava por este acolhimento tão amoroso por parte de um ser que nunca havia visto em sua vida.
Seus olhos azuis bem vivos, suas sobrancelhas desenhando compreensão e aceitação, sua expressão contando histórias sem fim, sem no entanto, uma única palavra pronunciar de seus lábios sorridentes.
Já tinha estado com outros gurus, mestres, jamais me haviam recebido com tamanho Amor.
Este é o ser que proclama e vive o Amor, na sua magnificiencia.
Bom, passei muitos agradáveis bocadinhos do fim de semana com eles, dando-lhe a mão, amparando-o na sua natural debilidade em andar, característica de alguém com quase 90 anos.
Este Homem, Deus, o mantém lúcido, anda sozinho, se preciso for, em sua voz débil, seu timbre ficou gravado no registo de minha memória, em meu coração. Dizia palavras, que, em mais que uma vez, me fazia vir as lágrimas aos olhos.
Não era apenas o que dizia, era a forma como dizia.
Entrava bem dentro nos recantos da alma, e tocava lá, onde era preciso.
A sua fragilidade e debilidade ao falar, comoviam-me ainda mais.
Que Deus me ajude a seguir as suas palavras e seu exemplo.
Sempre que nos víamos estendia-me a mão, para que fosse ao seu encontro.
No último dia, levei-o ao quarto, junto com seu neto e anjo da sua vida, Thiago, Hermógenes, já cansado de toda a tarde a dar palestra para ...nem sei, talvez umas 50 pessoas. Todas de volta dele e a pedir-lhe autógrafos dos muitas obras literárias que ele escreveu.
Foi um fim de semana de yoga, palestras, autógrafos dos livros, fotos, abraços, carinhos, sim, porque o que mais me surpreendeu, é que Ele tinha energia e sentido de humor para contar anedotas!
E os abraços super apertados???
Podem acreditar?
Levei-o ao quarto e que difícil ter de me ir embora, meu Deus, sem saber se o veria novamente.
E pensar que ele vem a Portugal há quase tantos anos quantos os que tenho...E só o conheço agora.
Na secretária do quarto, havia uma maçã e um pessego. Apareceu uma senhora para se despedir Dele. Seu neto, Thiago, disse para dar a maçã á senhora.
Ela foi embora.
Fiquei um pouco mais...e quando me ia embora, o Thiago disse ao avô, dá esse pêssego pra ela.
Ele pegou no pêssego e deu.
Foi um gesto simbólico.
Toquei seus pés e ele pos-me a mão na cabeça, e, agora mesmo que escrevo isto, estou sentada no bar do comboio, com o pôr do sol escondido nas nuvens no horizonte, as lágrimas humedecem meus olhos, um leve sufoco na garganta ao relembrar o momento.
Hoje, numa livraria da estação de Entrecampos, esperava pelo comboio e folheava um livro de Fengshui. Parei numa página onde dizia o simbolismo do pêssego.
Simboliza a Fertilidade.
Vim embora, não me queria separar Dele, pura e simplesmente.
Enquanto caminhava pelo corredor, as lágrimas caiam, de incerteza de voltar a estar com ele, de gratidão por esta benção, de dôr, de me ter que separar fisicamente deste Anjo da Paz.
Muitos Mestres no Céu, e o maior deles todos, Deus, nas suas variadas formas, protegem, inspiram e acompanham, ao longo da sua vida.
Isso se pode sentir ao ler os seus livros, ao estar na sua presença.
Sim, é um Ser iluminado, puro.
Thiago Leão, seu neto e protector, falou na palestra de domingo, e...muito me tocaram suas palavras.
Eu estava na primeira fila e ele na maioria do tempo falou com aqueles olhos negros profundos bem dentro dos meus, como se me estivesse falando directo á minha alma.
E estava.
Fazia tanto sentido o que dizia, conseguiu com o seu olhar profundo arrancar lágrimas da fonte de água salgada escondida em mim.
Logo a seguir falou o avô Hermógenes, foi o descalabro, pôs quase toda a gente a chorar de emoção contida!
O Vitor Carusso Jr., pude ter a feliz oportunidade de partilhar algumas conversas com ele.
Aliás, tal sorte a vida permitiu que ele fizesse a viagem de regresso a Lisboa comigo e com a Maria!
É um jovem budista, professor de yoga, escritor, com uma história de vida também interessante e desafiante a seus próprios limites, que demonstrou ser mais um Guerreiro da Paz.
Senti um sincero apreço, estima por estes três seres de Luz, feliz por ter reencontrado mais anjos da Paz, e porque o contacto já está feito, espero poder acompanhar as suas obras e vidas, enquanto nos for permitido andar por Cá.
Conheci um pouco mais sobre a história destes três seres, que é bem incomum, com momentos difíceis, que faz deles aquilo que são hoje.
Professor Hermógenes, Thiago e Vitor, um grande Bem Haja.
Mil bençãos para vocês.
Antes de ter escrito este texto, e após ter lido o livro do Vitor, ainda no comboio, li um pequeno livro do Sai Baba.
Falam ambos de sermos Amor em cada gesto e pessoa e não só nos momentos de oração e canticos.
Fala em servir o Outro, em Compaixão, em sorrir e sermos sinceros e expontaneos, em vez de artificialmente agradáveis.
Fala na Consciencia de Deus em cada um de nós.
Bom, li o livro, e vim até ao bar.
O senhor barman com ares de padeiro e energia algo feminina, falou para mim:
“Então o que é que vai ser?”
Mas isto com um sorriso aberto, de coração bonito e simpático.
O sorriso mais bonito que tinha visto hoje.
Foi um daqueles sorrisos que nos fazem esquecer as tristezas e sorrir também, sentindo, que simples é a vida nestes momentos.
Sentei-me no bar do comboio.
Não podia deixar passar em vão, aquele sorriso, inspirou-me a levantar e ir buscar o caderno e a caneta para escrever este texto que agora leem.
Assim que o mérito deste texto não é meu, mas sim do sorriso do simpático barman de nome António Pinto.
Saí do seminário com vontade de escrever, mas não é o Querer que manda.
Há sempre um tempo certo para tudo e o momento em que a inspiração desagua em nossos corações não é escolhido por nós, mas sim pela simples sincronicidades da Vida, como um simples sorriso sincero.
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