22.5.09

Night Walk * Caminhada Nocturna * Caminata Nocturna * Marche de nuit


Eramos um grupo de 27 pessoas, caminhámos por três horas, desde as 23h00 até ás 2h30 da madrugada, na mágica serra de Sintra.
Era uma noite sem luar, mas com o céu repleto de estrelas. Era uma noite amena, sem frio nem vento.





Com o guia, caminhante antigo nessas andanças, que nos falava da sua história, do seu percurso, e do que envolve as caminhadas nocturnas pelo brumas das serras densas.
Iniciámos assim a nossa caminhada por uma estrada de asfalto que nos levaria algures a um caminho de terra pela floresta dentro, que se iria estreitando a cada passo dado, que se iria escurecendo pelas copas das árvores a ténue luz das estrelas que ainda nos iluminava. Não havia luzes nem lanternas.
Caminhávamos, ora em silêncio, ora rindo, falando, interiorizando…cada um ao seu ritmo.
Apenas caminhávamos.
Antes de iniciar este passeio, e porque eram já as 11h da noite, estava já a abrir a boca de sono…pensava…vai ser bonito, se já vou com sono…uiui…
Após termos começado a andar e consoante nos íamos embrenhando cada vez mais no silêncio nocturno da serra, que nos parecia engolir, os meus sentidos foram despertando e despertando cada vez mais. Até chegar ao máximo do despertar dos sentidos, como um animal selvagem, e nocturno, completamente alerta.
“Os vossos pés são os vossos olhos” dizia o guia, sim, na verdade, não se via nada, por vezes a pessoa que estava a 2 metros de nós, se estivesse com roupa escura, aos nossos olhos, pouco habituados á escuridão, não a podíamos avistar. Apenas ouvir os ruídos, e é aí que os todos os sentidos ficam completamente alerta, abrem a um mundo novo.
Por baixo dos pés sentia o relevo de um caminho feito de terra e de pedras, com arbustos e ramos pelo meio.
Sob o brilho das estrelas espelhavam pequenas poças de água que encontrávamos por aquele trilho fora.
A dada altura, o guia diz-nos: “É hora de enfrentarem os vossos medos. Terão de caminhar sozinhos por este trilho durante um km.”
Ui! Glup, engoli em seco. Claro que só iria quem se sentisse preparado para tal, não era obrigatório.
Enfrentar os medos, e o medo de caminhar á meia-noite na serra de Sintra, embrenhada pela escuridão das copas das árvores que pareciam cobrir o céu e esconder as estrelas, não é muito diferente dos medos que enfrentamos na nossa vida quotidiana.
Temos medo de experimentar, de viver, medo do que ainda não aconteceu. A nossa mente leva-nos por vezes por trilhos nocturnos muito semelhantes ao que estaria prestes a percorrer.
Pois bem, houve muita gente que foi em grupo.
Fui só, pois se era parte do programa de festas, não ria desperdiçar esta oportunidade de realizar uma experiência nova. O que senti?...
Iniciei o caminho muito envolta em pedir e invocar a protecção os anjos. Nunca tinha feito caminhadas destas, era algo novo para mim.
Andava, passo a passo, olhava em frente, para os lados, para as árvores…
De início, levava os meus braços cruzados apertados contra o peito, em forma de cruz, com as mãos em direcção aos ombros, em forma de protecção.
A primeira metade do caminho foi assim.
Mas…protecção do quê???
Dos meus próprios medos?
Da minha mente?
De mim própria???
Em vez de olhar a floresta, o céu, o chão e a escuridão com olhos assustados e o coração apertado, comecei a abrir, comecei a baixar as defesas.
Comecei a sentir toda a energia das árvores, as estrelas que me olhavam cintilantes, as galáxias longínquas, comecei a receber o amor de toda aquela beleza que me envolvia.
Não mais me sentia amedrontada, baixei os braços, abri o coração e retribuí, num agradecimento, o privilégio de caminhar envolta por toda aquela beleza.
Sorri, senti. Terminou o trilho solitário, cheguei até ao resto do grupo.
Acaso na vida não será assim também?
Enfrentar os nossos medos entregando-nos á origem de onde eles vêm.
Amando a nossa envolvência, amando as pessoas que nos rodeiam, baixando os braços, abrindo o coração, e receber o que a Vida tem para nos oferecer.
Ter a Vida como amiga, como companheira de percurso. Amar a Vida.
Continuámos e esperava-nos uma íngreme subida, cheia de percalços, em que nos tínhamos que apoiar uns aos outros.
Foi a parte da cooperação, da entreajuda, dos risos, do deixar-nos guiar por desconhecidos.
Também cá fora, temos de aprender a confiar no outro, porque…se somos todos Um, porque nos havemos de fazer mal mutuamente?...faremos mal a nós próprios.
Confiar, entregar…
Chegámos a um planalto onde houve espaço e tempo para cada um entrar em comunhão com a natureza, com as árvores.
Eu deixei-me ficar a baloiçar ao som das copas das árvores, que dançavam ao toque da suave brisa nocturna. Abracei uma árvore e sentei-me no aconchego de outra linda árvore formada por três enormes troncos, onde no meio deles, havia espaço para alguém se sentar no centro desses três troncos, no seio da árvore.
Chegámos a uma clareira onde fizemos duas rodas, e onde tínhamos de nos abraçar a pessoa que tínhamos em frente, indo rodando e abraçando a pessoa que se seguia.
No meio de 15 pessoas, houve 3 raparigas e um rapaz, que era o guia, em que o abraço foi uma entrega total.
Todas as restantes pessoas, foi um abraço fugaz, longínquo, sem entrega, sem sentimento, a medo.
Dá que pensar, não dá?
Este é o reflexo da sociedade em que vivemos.
As pessoas têm medo da entrega, têm medo de confiar, têm medo que haja um contacto de coração a coração. Vivem com medo, erguendo muros á sua volta, armando-se de defesas.
Vivem na separação do Todo.
Mas com essas 4 pessoas, que me deram “aquele” abraço, houve conexão, não foram precisas palavras para sentir todo o calor que emanava dos seus corações, de todo o seu ser.

E que tal um pouco mais de entrega á Vida?...
Sónia

3 comments:

  1. Magnífica experiência de vida...que crescimento nos trás...
    Felicidades amiga!

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  2. SIM, Foi Mágico, assim como é mágico este momento em que te escrevo, A Vida é a Constante entrega a este momento, Pois só ele existe, só ele é Real.


    Paz

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