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Chegámos á serra as duas da manhã, numa aldeia esquecida de Portugal, pela redonda lua cheia dando-nos a luz para podermos enveredar por aqueles caminhos.
Descemos um trilho sinuoso, levando-nos até ao rio, que atravessámos, passando de pedra em pedra.
Éramos sete, uns alumiavam o caminho, enquanto outros ajudavam-se mutuamente naquele caminho tortuoso, entre nós, estava uma mãe com um filho ás costas.
Todos levávamos tendas e mochilas para ficar por ali uns dias.
A meio da descida, já se via a fogueira altiva no seu fogo, com as labaredas dançando ao som dos tambores ribombantes.
Chegámos ao acampamento onde sons de tambores ressoavam por entre os vales, dando-nos sinal que a noite ali ainda estava bem viva, ainda com a luz das fogueiras marcando o ponto onde a família estava reunida.
Largámos as trouxas e, ainda sem montar as tendas, descalçámo-nos e juntámo-nos ao grupo com a alegria das crianças quando reencontram a família.
Uma grande fogueira no círculo, sempre alimentada com lenha, rodeada de gentes de várias nacionalidades, ali dançámos, entoámos cânticos de índios, recordando e avivando memórias do que fomos outrora, em tempos idos…Ou até sendo os anjos vocalizando através das nossas vozes, sons e palavras cujo significado desconhecemos.
Pelas quatro ou cinco da manhã, montávamos a tenda e dormíamos.
Pelas nove, já o sol nos fazia sair cá para fora, com toda a sua força calorosa, dizendo, “aproveitar o dia!”
Apesar de dormirmos poucas horas, a energia estava restabelecida.
Não havia sono.
Nas margens do rio nos refrescávamos e comíamos algo.
Ali, onde os corpos totalmente despidos se fundiam na beleza daquela natureza, do som do rio, do verde da montanha, nas pedras redondas, no azul do céu e no som dos pássaros, cigarras e rãs.
Tudo perfeito.
Havia uma harmonia silenciosa no sorriso de outras gentes com quem nos cruzávamos.
Olhares que se encontravam e se reconheciam.
As refeições eram feitas em círculo numa grande clareira, éramos mais de 100 pessoas e as refeições eram anunciadas por um sonoro “FOOD CIRCULE!”
Após o jantar reuníamos á volta da fogueira onde sons de tambores, jambés, violinos, saxofone, maracas e vozes davam o ritmo e o compasso dos corpos dançantes e das chamas que avivavam a alma no conjunto desta dança da Vida.
Ali, naquele lugar perdido do mundo e encontrado em nós, não havia horas, nem horários, apenas havia espaço para sermos e fazermos o que nos apetecesse.
Na manhã seguinte fomos rio acima até umas cascatas, onde o rio abria e se transformava num pacífico lago com uma grande rocha no meio, marcando o centro desse mesmo lago. Parecia a carapaça de uma tartaruga.
É um tempo indígena, onde homens e mulheres andam nus, fazendo da nudez do corpo, a simplicidade do espírito.
E é aqui que o tempo parece prolongar-se em cada minuto, onde um dia equivale á sensação de estarmos aqui á uma semana.
Rainbow, se chama este movimento, anda á volta do mundo, de país em país, trazendo de volta as nossas origens, a simplicidade da vida, tão pura.
Não havia valores, apenas se dava ao final da refeição aquilo que cada um pudesse.
As refeições eram vegetarianas e havia workshops vários, desde o reiki, yoga, e outras artes que qualquer um de nós quisesse ensinar.
Construíram uma ponte sobre o rio e improvisaram uma cozinha.
Desta experiência, eu e os irmãos com quem fui, trouxemos a vivência, para poder partilhá-la cá fora.
Um tempo que se prolongava…
Na nudez dos seres que por ali caminhavam.
Sónia
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